Wednesday

Desafio

Não sou muito de responder a chain letters e muito menos de fazer este tipo de posts no meu blog, mas como o desafio foi feito directamente por uma fellow blogger (Pipoca) e sob a ameaça de ficar para sempre impotente caso não respondesse, aqui vão as respostas.

(Desafio consiste em responder às 10 seguintes perguntas com nomes de músicas de uma só banda)

Banda: Pink Floyd

1) És homem ou mulher? Bring the Boys Back Home

2) Descreve-te: A Saucerful of Secrets

3) O que as pessoas acham de ti? Shine On You Crazy Diamond

4) Como descreves o teu último relacionamento: A Momentary Lapse of Reason

5) Descreve o estado actual da tua relação: What Do You Want From Me

6) Onde querias estar agora? The Great Gig in the Sky

7) O que pensas a respeito do amor? Is There Anybody Out There?

8) Como é a tua vida? One in a Million

9) O que pedirias se pudesses ter só um desejo? Learning to Fly

10) Escreve uma frase sábia: Set the Controls for the Heart of the Sun

Não vou passar o desafio a mais ninguém pois não tenho online buddies. Eu sei, é triste. Respondam se quiserem nos comments.

Tuesday

Unnamed Rant

There’s a scent stenching up the air
Reminiscent of fallen leafs long forgotten in despair
As our branches dropped the weight they could not bare

There’s a tune conducting the way we flow
Mnemonic of a dance we so well used to know
Apathically we stand on the doubt on to lead or to be lead

There’s an unknown color painting our worlds
Its light shedding warmth on our own very souls
There’s more to black and white when you dwell yourself in grey

There’s a path opening ahead trying to show us the way
Paving our next move as if on the subject we have nothing to say
Blindly we wander it but always looking into the path sideways

There’s a shiver within, harsher than the shivering cold
Shaking our own primal existence, defying us to be bold
Indulge the freezing water for the fiery sun is only three strokes away

Primeira Página

“Não gostas de mim, nunca gostaste. Pior, tu não gostas de ti próprio e por isso mesmo duvido que gostes sequer de alguém. Não sabes, nem queres, ser feliz, apesar de insistires que é tudo por quanto anseias. Assim que a felicidade ameaça, retrais. Foges e isolas-te no teu buraco escuro ao qual chamas casa apesar de todos saberem, e ninguém melhor do que tu, que não passa de um beco sem saída onde te afogarás em lágrimas e no qual conviverás só e apenas com os teus próprios demónios.” Ela vira costas fazendo os seus cabelos escuros, que tantas vezes fiz passarem pelos meus dedos, esvoaçarem agressivamente na minha direcção como se de uma fria estalada se tratasse, e parte em direcção ao esquecimento.

Poderia tomar estas palavras como um ataque insensível de alguém a quem roubaram o, e não um, sonho. A quem mais nada sobrou senão o poder acutilante da vingança no seu estado mais selvagem: as palavras. Mas não as tomo como um ataque. Estou demasiado ocupado a pensar que já ninguém fala assim, tão eloquentemente, senão em livros. Além disso, ela está muito perto de ser a senhora da razão e o meu silêncio é, assustadoramente, comprometedor.
Enquanto dou por mim a absorver tudo o que foi dito e a analisar mais um relação que eu, tão profissionalmente destruí, noto uma ligeira pausa na sua marcha apressada. Os seus movimentos são agora visivelmente reflectidos e menos guiados pela emoção. Está, obviamente, a pensar nas últimas palavras que (pensa ela) me dirigirá, pois a última palavra é a única arma que resta a um orgulho ferido por um coração partido. Antecipo-as, como tantas outras vezes antecipei o que lhe ia na alma. Eterna maldição dos frios e calculistas.
Por fim parece ter o discurso pronto e bem afiado. Interrompe a marcha imperial e eu ponho-me a jeito dando-lhe toda a atenção e pondo o ar culpado mais inocente que consigo. Dá meia volta e diz ininterruptamente, sem oscilações na voz: “Espero que sejam muito felizes, tu e eles, porque ninguém mais neste mundo vos há-de aturar”. Previsível, mas não dói menos por isso.
Volta a dar meia volta e faz o seu corpo moreno dançar dentro do seu vestido, calculadamente largo, deixando-me com as memórias das curvas e formas que durante tanto tempo me deixaram embriagado, as formas que o vestido largo esconde, deixando os outros, insistentemente, a adivinhar, enquanto acelera novamente o passo e sai de cena.
A pálpebra do meu olho direito treme continuamente. Sorrio, não com o meu habitual sorriso desafiador e ligeiramente aberto, mas antes um sorriso cínico que esconde uma lágrima. Pois a minha pálpebra não treme sozinha, toda a minha existência treme com ela, fruto de mais uma enorme desilusão da qual o único culpado é o mesmo filho da puta de sempre. Eu.

Penso por breves instantes na minha primeira amante, uma mulher descomplexada, experiente, com uma beleza bem acima do meu potencial e um bolso que parecia não ter fundo às vontades de um puto de dezasseis anos. Por mero acaso, vim a descobrir que era amiga da minha mãe mas essa história fica para depois, mais para a frente. Pensei no conselho que ela me deu na altura: “Se queres mesmo ser feliz, não sejas de uma mas de todas e dá-lhes o amor que me dás agora. Eu conheço-te e és igual a mim, nunca serás verdadeiramente de ninguém. Somos demasiadamente apaixonados por nós próprios. Se fores contra a tua própria natureza espera-te uma vida de sofrimento e incompreensão, perguntas sem resposta, caminhos sem saída. Dá o amor que sabes e não o que fantasias”.

Na altura ri-me, ainda novo demais para perceber que todas as verdades que preciso e viria a precisar me foram ditas pelas mulheres da minha cama (dizer da minha vida seria uma terrível ampliação de uma realidade, já por si, distorcida). Na altura ri-me, sim, e limitei-me a dar-lhe a única coisa que mais tarde vim a perceber, à custa de frases horríveis, tão verdadeiras, que me foram atiradas em tom de vingança e destruição, ser a única que tenho para oferecer a uma mulher: prazer sem compromisso. Por todas menos uma.

Sento-me na rede, tentando ainda perceber tudo o que se acabou de passar e sobre tudo o que já se passou. Deixo descair o meu corpo, lentamente, até este tomar as formas do pano imundo e coçado pelo tempo, deixando então que este me envolva plenamente no seu morno e familiar abraço. Pego na minha fiel companheira, uma pequena caixa de madeira oriunda de Marrocos e entregue pelas mãos dela, da única. Abro a caixa e deixo os meus sentidos serem absorvidos pelos aromas das montanhas do Atlas, das florestas Canadianas, do calor húmido das Caraíbas, da chuva gélida de Amsterdam que disfarça o odor do sangue derramado no Afeganistão. Fabrico, habilmente (ou não fosse muita a experiência) um poço de esquecimento. Dou-lhe luz e deixo-me ser guiado pelo nevoeiro que entretanto desceu sobre mim, imaginando que a cada inspiração e expiração dou um impulso em direcção ao limbo, para um espaço intemporal e de fantasia onde os meus pensamentos voam livres de censura.